sábado, 23 de abril de 2011

Santo Agostinho

Aurelius Augustinus, filho de Santa Mônica, nasceu em Tagaste, província romana da África, em 354. O Pai se sacrificou muito para que Agostinho não ficasse só nos primeiros estudos, mas tivesse a educação liberal em Cartago que poderia abrir-lhe a porta do magistério.

Foi um diálogo chamado Hortensius, hoje perdido, do clássico Cícero (106-43 a.C.), que lhe abrira as portas do saber. O diálogo era um elogio a Filosofia. A partir daí tomou amor pela sabedoria.

Sua mãe oferecia-lhe sempre a Bíblia para que ele a lê-se, mas ele recusava-se, as sagradas escrituras lhe pareciam vulgares e indignas de um homem culto.

Sua juventude foi marcada pelo amor aos prazeres mundanos e pela Filosofia. Abriu uma escola em Tagaste, logo depois se transferindo de novo a Cartago, a fim de ocupar o cargo de professor da cadeira municipal de retórica. Era grande professor. Porém a maior parte dos alunos fazia os cursos apenas para cumprir obrigações familiares e sociais e, consequentemente, não se interessava muito pelas aulas. Depois de 10 anos, cansado de dar aula para pessoas desinteressadas, ele se muda para Roma.

Antes da viagem deixou-se, então, seduzir pelas doutrinas dos maniqueus, que afirmavam a existência absoluta de dois princípios, o bem e o mal, a luz e as trevas.

Agostinho viajou para Roma com esperança de encontrar alunos mais dedicados, e também maiores lucros e consideração. A residência imperial nessa época se encontrava em Milão e Agostinho logo já foi para lá ocupar um cargo de professor de retórica.

Deixou o maniqueísmo e frequentava a Academia platônica, onde entrou em contato com o neoplatonismo, então muito distante da linha de pensamento de seu criador e voltada para um ceticismo e um ecletismo não muito consistentes.

O platonismo foi um passo importante para a tão famosa conversão ao cristianismo. Para os Cristãos de Milão o platonismo era a Filosofia que mais se aproximava com o cristianismo e era fonte de conciliação entre a Fé cristã e a Filosofia grega.
No ano de 386, Agostinho contava com 32 anos e chorava nos jardins da sua residência em Milão. Deprimido e angustiado no momento, procurava uma resposta definitiva que lhe desse sentido à vida. Ouvindo uma voz de crianças que diziam: “Toma e lê, toma e lê” ele olha ao seu redor e não enxerga essas crianças, mas encontra uma Bíblia sobre a mesa e a abre na passagem: “Não caminheis em comilanças e embriaguez, não nos prazeres impuros e em leviandades, não em contendas e emulações, mas revesti-vos de Nosso Senhor Jesus Cristo, e não cuideis da carne com demasiados desejos.” Uma espécie de luz inundou lhe o coração, dissipando todas as trevas da incerteza.

Isso aconteceu tempo depois que Agostinho conheceu Santo Ambrósio, bispo de Milão e grande orador e teólogo. Sua admiração pelo bispo foi grande ao ponto de escutá-lo, sem atenção ao que falava aos fieis, mas somente para admirar sua retórica e sabedoria.

Depois do dia em que as palavras de Paulo de Tarso o converteram ele se afastou completamente de qualquer ato pecaminoso. Deixou também o cargo de professor e tirou uns dias para descansar na propriedade rural um amigo. Na primeira Páscoa seguinte foi batizado conforme os costumes da época. Então voltou a Tagaste, vendeu as suas propriedades paternas e junto com amigos fundou uma espécie de comunidade monástica. Ali pretendia passar o resto de seus dias em recolhimento, fundamentando racionalmente a fé que abraçara e se aprofundando espiritualmente em sua vocação religiosa.

Passados 3 anos, em um certo dia Agostinho adentra a Igreja de Hipona e o Bispo Valério está propondo a assembleia a escolha de um ajudante nas funções sacerdotais, principalmente na pregação; e então a assembleia falou em uma só voz e sem dúvidas: “Agostinho, presbítero!”

Embora não gostasse da ideia, aceitou como sendo um chamado divino. Depois de alguns anos Agostinho sucedeu Valério como Bispo de Hipona dividindo seu episcopado entre tarefas de culto e administrativas, e suas reflexões filosóficas e teológicas.

Apesar de muitos afazeres e responsabilidades como Bispo, realizou uma obra imensa, grande parte imprimida em problemas que eram concretos para a Igreja da época. No livro Confissões Agostinho conta toda sua história de vida e se revela admirável analista de problemas psicológicos íntimos, tanto quanto de questões puramente filosóficas.

Agostinho morreu em 430. Despedia-se assim da “cidade dos homens”, que considerava pecaminosa e em trevas, e entrava na “cidade de Deus”. Deixou para nós obras e um pensamento que reinou por vários séculos no Ocidente Cristão, até que outros teólogos pensaram a nova fé em termos filosóficos diferentes.

A síntese que realizou com seus pensamentos, ele mesmo chamou de “filosofia cristã”. O núcleo em torno do qual gravitam todas as suas ideias é o conceito de beatitude e vivencia da santidade. Para ele a felicidade é a razão da filosofia: “o homem não tem razão para filosofar, exceto para atingir a felicidade”. Porém para Agostinho somente a filosofia não era o bastante para nos levar a felicidade, a espiritualidade e a paz interior também era muito importante para isso, daí seu pensamento sempre foi entorno da fé e da razão.

Ainda que as verdades da fé não sejam demonstráveis, isto é, passíveis de provas, é possível comprovar o acerto de seu crer nelas, e essa tarefa cabe a razão. A razão relaciona-se, portanto, duplamente com a fé: precede-a e é sua consequência. Em suas palavras: É necessário “compreender para crer e crer para compreender”.

A Filosofia é para ele uma auxiliar nas questões de fé e felicidade, e por isso muitos veem nele um teólogo e um místico e não propriamente um filósofo. Conquanto, seu pensamento manifesta frequentemente grande penetração filosófica na análise de alguns problemas, e a verdade é que Agostinho conseguiu sistematizar uma grandiosa concepção de mundo, do homem e de Deus.

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